— Ainda lendo este jornal? desista, cara, você não vai conseguir um emprego!
— Que isso, Ana? Nem você acredita mais em mim?
— Não é isso, meu amor, é que você está fazendo tudo errado! Assaltante não encontra emprego em jornal, por que você não vai à favela? Talvez você consiga um parceiro.
— Parceiro? Mas eu não sou gay! Tá, eu já tive minhas experiências, mas isso não quer dizer que eu seja gay, quer?
— Bem, aí não sei, eu também não sou psicóloga, mas Amor, você deveria mudar de profissão, dizem que malabares no semáforo dá um bom dinheiro, além de ser um emprego seguro.
— Seguro?!?
— Sim, e obrigatório, ainda por cima. Suponhamos que você seja atropelado por um carro, você ganha uma boa nota, sabia?
— Olha, Ana, agora que eu não to mais entendendo nada, viu? Você quer que eu faça malabares ou que eu toque flauta harmônica?
— Bem, deixa pra lá, acho melhor voltar ao que eu estava fazendo…
— O quê você estava fazendo?
— Sabe que eu não lembro? Tinha alguma coisa a ver com te ver lendo o jornal, e ficar reclamando…
— Interessante, eu posso fazer também?
— Hmmmm, acho que pode…
Alguns minutos depois…
— Ana, eu acho que tem algo errado nisso tudo..
— Eu também acho, não dá pra te ver ler o jornal e ficar reclamando se você não está lendo o jornal.
— Bem, mas veja pelo lado bom, estamos ambos reclamando…
— É, isso é bem verdade, a gente podia revesar também, né? Eu leio o jornal e você reclama e vice-versa.
— Ahh não! eu prefiro muito mais reclamar junto com você, lembra quando reclamamos pela primeira vez?
— É, lembro sim, estávamos reclamando que além da condução alternativa demorar muito a passar, a gente ainda tinha que pagar passagem, é o cúmulo, não acha?
— É, com o tanto de imposto que pagam nesse país, a gente teria que ter tudo de graça, não só a bolsa família que o governo federal nos dá.
— Amor, eu acho que você reclama muito!
— Ana, você só vive reclamando das minhas reclamações ultimamente, o que está havendo de errado? Você encontrou outra pessoa, não foi?
— Olha, pra falar a verdade sim, mas não sei se o nome dela era “outra”, acho que tava mais para Alguém.
— Ohh! E como você sabe que o nome dele ou dela era alguém?
— Bem, você sabe quando você tem a sensação de que tem alguém te seguindo?
— Imagino…
— Pois é, é bastante esquisito mesmo.
— Ana, Alguém estava te seguindo?
— Nãããooooooooooo, Alguém jamais faria isso…
— Então por quê tocou no assunto de alguém seguir e essas coisas?
— Sabe que eu não sei? É que todo mundo fala isso, eu sempre tive vontade de falar também pra saber como é ficar falando mal da vida alheia, mas como nunca tive oportunidade… Bem, achei que seria conveniente tocar no assunto.
— E esse assunto? posso saber quantos anos ele tem?
— Bem, hoje eu não sei, na época em que eu trabalhava na casa da mãe dele, ele era bem novinho, coisa de 19 anos.
— E hoje?
— Hoje? você quer sair? Que bom, eu tava mesmo precisando comprar umas roupas novas.
— Perfeito, chame o motorista!
— Amor… Não temos motorista…
— Então ferrou, eu não sei dirigir..
— Relaxa, Alguém deve saber..
— Amor, quando é que a Loucura vai embora, hein?
— Sabe que eu não sei? Ela é muito folgada! Já chegou dizendo que ia ficar, trouxe as malas, parece que veio fazer tratamento pra pele…
— Tia doida, essa a sua, não?
— é.